segunda-feira, 10 de junho de 2013

das coisas que dão gosto de viver

eu gosto de dias cinzas com pessoas que me colorem do lado.

eu gosto de chuva, de muitas maneiras, e mais ainda quando posso me enrolar numa manta e observar pela janela.

eu gosto de entrar no ônibus vazio e observar as pessoas entrando, e quando não dá mais para ver, também gosto de observar o lado de fora.

às vezes me esqueço do que há dentro para observar os prédios e o céu, as árvores, a rua e a calçada. às vezes eu me esqueço de que o externo está passando e fico me perguntando que tipo de pessoa é aquela que carrega um guarda-chuva num dia tão seco, ou aquela que veste um semblante triste de quem chorou a noite inteira.

e às vezes, muitas vezes, eu me esqueço do que está dentro e fora, e me perco dentro de mim. eu gosto das minhas viagens.

eu gosto do céu em dégradé e de quando as estrelas estão brilhando tanto quanto a lua.

eu gosto de café solitário e de café com os amigos, com a família toda junta.

eu gosto dos dias em que o sol brilha mas não queima, e de quando ele ilumina meus olhos, de modo que eles adquirem uma cor diferente.

eu gosto do que vejo quando eu vejo você e quando você me vê, e ambas sorrimos, porque nossos olhos juntos produzem esse efeito em mim de querer sorrir e nunca mais parar.

eu gosto quando você para na minha frente e me olha, quando você está tão próxima que eu poderia te beijar ou te abraçar sem fazer muitos movimentos. eu gosto de quando você está na minha frente e não faz nada; só me faz desejar que você estivesse me abraçando, ou algo assim. eu gosto quando você diz que ficar desse jeito te faz sentir que “está engolindo meu corpo” com o seu, mas eu gosto mesmo, porque me dá uma sensação boa de que só tem você e mais ninguém ali.

eu gosto do jeito que em tudo que escrevo você dá um jeito de aparecer.

com seu sorriso, com seus olhos, com essa paz que você me dá, com essa segurança. eu gosto de como cada rascunho que eu tento escrever fala de amor mesmo não querendo falar.

gosto disso. de quando no final das contas, toda poesia fala de amor, mesmo não falando.

eu gosto de tudo que faz o mundo girar mais bonito.

de gente que sorri, de quem canta sozinho e dança sem se importar. de quem não tem vergonha de ser feliz, e de quem tem vergonha de mostrar que está feliz, mas está sendo, mesmo que ali no seu cantinho.

eu gosto de cafuné, de colo, de ombro, de amor;

de ser ombro, braço, mão e colo também.

eu gosto de amar o que me faz bem.

(Ana F.)

sobre flores, telejornal e uma utopia

a gente precisa de paz, izabela.

e quando digo a gente, não falo de nós duas apenas,

não vou falar de nós só por agora, porque isto é sério.

as flores um dia irão desistir de nascer de tanto que tentam e sempre morrem. sufocadas, pisoteadas, queimadas, arrancadas de seus próprios mundos.

não vamos, porém, deixar de arrancá-las do chão, porque elas enfeitam o nosso mundo podre.

porque os prédios se erguem e atrapalham a nossa visão de um céu cinza da fumaça daqueles grandes fazedores de coisas. e quando conseguimos ver o azul, nos fechamos entre quatro paredes com medo de morrer ou perder alguma coisa no meio do caminho.

o mundo é insano, e a gente se acostumou.

porque quando ligamos a tevê e percebemos que mais sei-lá-quantas-pessoas deixaram o nosso planeta só hoje, a gente não pode nem mais se dizer indignado, chocado, e estas outras palavras que me soam hipócritas;

porque vemos isso todo dia.

e nunca fizemos nada.

nós nos calamos diante do nosso mundo doente;

como quem observa um velho com seus setenta e tantos anos se definhar por causa de uma gripe que poderia ter sido curada. mas só deixaram o pobre na cama tomando vento no peito, porque a janela estava aberta.

eu sofro quando o mundo sofre, izabela, mas eu também estou acostumada.

porque eu só sinto minha dor no peito todos os dias quando ligo o jornal e vejo que mais um punhado de gente morreu só nessa semana. e me esqueço quando começa a novela que todo mundo assiste pra se desligar da realidade que lhes foi atirada na cara pelos repórteres. eu não assisto mais às novelas, mas me adentro ao mundo virtual, o que, reconheço, também nos distrai.

mas não sei qual é o meu problema, porque vou dormir angustiada por não conseguir fazer nada.

por nem tentar.

eu sou uma sonhadora,

mas sonho mal e porcamente, porque não encontro uma solução para o meu próprio problema.

me sinto medíocre,

me sinto pequena diante da imensidão que é esse universo caótico.

e me encolho,

viro flor sufocada, pisoteada, queimada,

arrancada deste mundo.

a gente vira flor, e se tranca num pequeno mundo onde somos todos cegos.

a gente vira flor e fecha os olhos,

só pra ver se um dia a nossa paz vai chegar.

ironia.

(Ana F.)

das vezes que eu quis estar errada

eu só estava andando por aí, sabe?

seguindo o meu rumo, o meu destino, olhando para o chão e vezenquando para os prédios que não me deixavam enxergar o horizonte. o céu quase sempre nublado nessa cidade que adora chover, e os carros que nunca param quando se está sozinha. e eu que realmente não esperava me esbarrar em você.

não, eu não esperava como nunca esperei que a chuva caísse sobre mim quando esqueci o guarda-chuva. você deve estar pensando agora que eu não queria me encontrar com você, pois lhe comparei com as gotas frias d’água que molham - jeans e bolsas, blusas e cabelos - e trazem caos ao trânsito das pessoas apressadas.

mas não, meu bem, eu amo a chuva.

eu adorava a surpresa, o desespero momentâneo de perceber que não havia como escapar, e por fim a frescura dos pingos que escorriam no meu rosto e me acalmavam.

e com você foi da mesma maneira.

eu realmente não te esperava, como não se espera pela chuva, mas foi uma surpresa te encontrar. eu me descabelei, sim, quando me encontrei pensando nos teus olhos verdes e vi que não havia para onde correr; e só pensei em desastres. em vidros quebrando, melodias desafinadas, em desencontros e despedidas. mas teu desalinho se encontrou com o meu, e então tudo pareceu mais tranquilo.

eu nem penso mais no futuro, mas tenho medo.

eu nem penso mais no mito que é o ‘eterno’, porque acredito na efemeridade das coisas,e na beleza daquilo que tem final.

porque todo grande império tem teu auge e decadência, e nós não somos diferentes. quedas e feridas são inevitáveis, mas, menina, você sabe que faria o máximo para amenizá-las para você, que se eu puder, te segurarei quando cairmos. talvez um dia você perceba que não sou eu quem você quer, e se você não quiser cuidar dos meus machucados eu vou entender, porque apesar de tudo, eu sou muito mais difícil de remendar do que pareço.

e embora eu tenha dito tanto sobre o fim, e sobre as minhas certezas de que nada dura para sempre, eu gostaria de estar errada.porque eu gostaria de passar minha vida inteira ao teu lado, se você permitir, e daria tudo de mim para permanecer aí dentro de ti.

(Ana F. Carneiro)

sobre finais, eternidades e quebra-cabeças

sinto que vamos ascender e cair, e que na queda, morreremos.

e isto não parece coisa ruim para mim. “morrer do seu lado seria um jeito divino de morrer”. o que quero dizer é que se tivermos fim, continuarei a te amar. e isso não precisa significar que ficaremos juntas para sempre, porque sabemos que isso não acontece. acredito que iremos adormecer um dia e desejar um fim - ou você ou eu -, mas o fim não nos destruirá. porque ainda irei amar as nossas memórias. aquelas que ainda vamos viver. você vai continuar a ser a primeira garota que amei.

sinto que vamos ascender e cair, mas não sei o quanto vamos subir e nem quando vamos cair, mas isto não me importa nem um pouco agora. o que me importa são teus olhos, teus cabelos, teus braços, teus lábios. você me importa e eu quero te fazer muito feliz, porque o universo nunca me trouxe alguém assim, e agora que eu te encontrei, posso sentir todas essas coisas que as pessoas sentem quando estão apaixonadas.

quero que tuas imperfeições completem as minhas falhas, e que minhas imperfeições completem tuas falhas, porque é aí onde nos completamos: nos erros. e isto não quer dizer que teus acertos sejam menores, e nem que estes não nos completam. mas eu acredito que são as falhas e imperfeições que formam encaixes, enquanto que os acertos apenas colidem. e seria um belo caos se apenas colidíssemos, pois poderíamos quebrar.

e eu não quero te machucar.

(Ana F.)

me traga o teu amor mas não traga o teu cigarro

cigarros são só bonitos em fotografias, menina.

quando você tragou na minha frente, meu coração se contorceu todo. eu quis sair correndo dali ou arrancar aquilo da tua boca, mas eu me calei.

naquele início de noite quente, eu pensei em até me descontrolar por sua causa, mas tentei me manter centrada em não transparecer o meu amor por você. chorei por dentro e uma ou duas lágrimas escaparam, mas me controlei. aquela fumaça me afetou tanto que você notou minha tristeza estampada na face. eu lhe disse “é só impressão”, mas não era. de alguma forma, eu me senti bem quando você foi a única a perceber a minha angústia. mas aquilo não me curou daquela ânsia de ir embora e chorar o resto no travesseiro e lavar no banho quente a minha cara borrada.

fumaça e tristeza combinam e dão uma boa arte de segunda e bem clichê, e por mais que você (e eu também) ache isso bonito, não traga mais o teu cigarro.

naquele anoitecer eu não quis lhe dizer, e não lhe disse, porque eu nada poderia mudar. mas talvez agora que as coisas tenham mudado um pouco, talvez eu possa mudar, meu bem.

(Ana F.)

sábado, 13 de abril de 2013

Cara Amélia,

Escrevo-te por não aguentar mais sozinho o meu próprio corpo que não te tem. Porque a vida tornou-se mais amarga ainda desde que me deixou e levou embora sua doce essência de fim de tarde. Escrevo-te porque há treze meses vivo procurando teu sorriso na cidade, e não encontro nem tuas lágrimas. Porque por mais que eu ainda te queira tanto, espero pelo menos poder te ver sorrindo com um outro alguém que não eu. Porque fiquei congelado no ano de 1996, quando te vi séria e decidida a completar aquela volta na pista de corrida. Quando te observei atentamente quase conseguir e tropeçar e cair. Quando te ajudei a levantar e você me disse que nunca mais iria correr. E que nunca mais correu mesmo, pois descobriu que sabia mesmo era nadar. Fiquei congelado nesses dois anos que agora me parecem ter sido tão ligeiros. Tão ligeiros e tão cheios de gosto. Da tua boca, da tua pele, dos teus olhos e da água salgada que derramou quando disse que não me amava. E que mesmo assim iria ficar, porque no fundo sabia que aquela apenas ternura, quem sabe, tornaria-se então um amor.
Escrevo-te simplesmente porque sinto tua falta e porque me mato toda vez que me lembro da certeza da tua não-volta. Escrevo-te simplesmente porque eu achava que aos poucos tua imagem se transformaria em um borrão, e que iria se distanciando cada vez mais, até que não a pudesse mais enxergar nitidamente. Escrevo-te pois achei errado. Do teu rosto, teus contornos me estão tão próximos que quase os toco, se não fossem miragem; do teu corpo lembro de cada detalhe: dos joelhos marcados, dos ombros pouco mais largos e do seio firme, da cintura que minhas mãos tanto amavam se deslizar. E o cabelo, ah, aqueles caracóis alaranjados, aquele corte mal cortado na nuca que você odiava, e eu ainda tanto adoro.
Escrevo-te enfim por não gostar mais da ideia de ter de te escrever uma carta pedindo para voltar para casa. Por não gostar de te tratar por “cara Amélia” ou só por teu nome e mais nada. Eu queria mesmo era te chamar de “minha querida”, só “querida”, só “minha”. Minha. Escrevo-te por, embora não ter chorado quase nada, tenho muita vontade de transbordar um rio por você. Escrevo-te enfim porque tua ternura por mim nunca se tornou amor, mas para mim, só ela bastaria, se assim você pudesse voltar. Escrevo para te dizer que eu, sinceramente, profundamente, te amei. E amo também. E amarei ainda por mais tempo, se o meu corpo assim permitir. Porque, não sei se já sabe, ou se está começando a perceber, estou meio insano. E que prova melhor desta não-lucidez que esta carta de amor? Minha querida Amélia, estou delirando e escrevendo, escrevendo e delirando, na esperança, num pingo de esperança que seja, que isto te traga para mim outra vez. E eu escreveria mais e mais, mas você poderia me achar louco demais, e se assustar. Se é que já não se assustou.
Amélia, te peço, me encontre naquele lindo lugar que conhecemos um dia, você sabe qual é. Te peço, me encontre lá em um dia destes no final de uma tarde qualquer, pois estarei lá. E lá esperarei. Nem que seja apenas para me deixar mais uma vez, nem que seja para se despedir. Só preciso de te ver e talvez assim entender…
Com amor,
(uma das flores que você colheu pelo caminho)

Ana Flávia Carneiro

sexta-feira, 5 de abril de 2013

E o nome dela era...

teus olhos me aqueceram a alma,

assim como o teu sorriso me trouxe de volta

aquele velho significado de paz.

ah, menina, quando te vejo chegar,

fico cheia d’uns sentimentos incertos.

é que tu ilumina

as quinas escondidadas de meu corpo

que eu mesma nunca encontrei.

engraçado é que nem conheço teu refúgio mental

mas tu já me cativa.

pudera eu penetrar teus olhos

e descobrir os motivos de tanta tristeza.

se deixar, eu cuido de ti.

(Ana F. Carneiro)