segunda-feira, 10 de junho de 2013

sobre flores, telejornal e uma utopia

a gente precisa de paz, izabela.

e quando digo a gente, não falo de nós duas apenas,

não vou falar de nós só por agora, porque isto é sério.

as flores um dia irão desistir de nascer de tanto que tentam e sempre morrem. sufocadas, pisoteadas, queimadas, arrancadas de seus próprios mundos.

não vamos, porém, deixar de arrancá-las do chão, porque elas enfeitam o nosso mundo podre.

porque os prédios se erguem e atrapalham a nossa visão de um céu cinza da fumaça daqueles grandes fazedores de coisas. e quando conseguimos ver o azul, nos fechamos entre quatro paredes com medo de morrer ou perder alguma coisa no meio do caminho.

o mundo é insano, e a gente se acostumou.

porque quando ligamos a tevê e percebemos que mais sei-lá-quantas-pessoas deixaram o nosso planeta só hoje, a gente não pode nem mais se dizer indignado, chocado, e estas outras palavras que me soam hipócritas;

porque vemos isso todo dia.

e nunca fizemos nada.

nós nos calamos diante do nosso mundo doente;

como quem observa um velho com seus setenta e tantos anos se definhar por causa de uma gripe que poderia ter sido curada. mas só deixaram o pobre na cama tomando vento no peito, porque a janela estava aberta.

eu sofro quando o mundo sofre, izabela, mas eu também estou acostumada.

porque eu só sinto minha dor no peito todos os dias quando ligo o jornal e vejo que mais um punhado de gente morreu só nessa semana. e me esqueço quando começa a novela que todo mundo assiste pra se desligar da realidade que lhes foi atirada na cara pelos repórteres. eu não assisto mais às novelas, mas me adentro ao mundo virtual, o que, reconheço, também nos distrai.

mas não sei qual é o meu problema, porque vou dormir angustiada por não conseguir fazer nada.

por nem tentar.

eu sou uma sonhadora,

mas sonho mal e porcamente, porque não encontro uma solução para o meu próprio problema.

me sinto medíocre,

me sinto pequena diante da imensidão que é esse universo caótico.

e me encolho,

viro flor sufocada, pisoteada, queimada,

arrancada deste mundo.

a gente vira flor, e se tranca num pequeno mundo onde somos todos cegos.

a gente vira flor e fecha os olhos,

só pra ver se um dia a nossa paz vai chegar.

ironia.

(Ana F.)

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