segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Carta para minha avó

“Vó, o que foi que aconteceu? Uma hora você estava bem ali, e agora, tão sozinha neste quarto frio de hospital, tão fraquinha. Vó, você poderia me ouvir se eu conversasse com você esta noite? Aguenta firme. Eu sei que você vai sair dessa. Eu não admito perdê-la para o tempo, para vida. Com esse mesmo tempo, que quer te levar de mim, suas forças voltarão, e nós cuidaremos de você. Só aguenta firme, por favor, vovó. Eu tentei falar com Deus, independente da minha religião, do que eu acredito e deixo de acreditar, e pedi à ele que cuidasse da sua vida, e que não a levasse embora. Vó, a senhora sabe que não sou disso, mas eu rezei por você, para você, pedi aos Céus para que tudo se ajeitasse aos poucos. Estou torcendo, gritando na minha cabeça para que você volte, que você vai voltar. Você é forte, vó. As pessoas estão dizendo que não me importo com você, mas eu choro todas as noites. Elas disseram que estou sendo fria, mas só não quero que elas vejam que estou desabando. Vó, a senhora sabe muito bem como eu sou. Sabe que eu te amo, e que não sei demonstrar. Eu sei que tudo vai ser diferente quando você voltar, que não vamos mais fazer as mesmas coisas nos sábados. Que tudo vai ser mais difícil. Mas, vó, nós vamos estar com você, então aguenta firme. Eu ainda quero te ver mais vezes, no Natal, no Ano Novo, no meu aniversário… Fica bem, eu sei que você sai dessa.

                                                                                           Ana Flávia.”

 (Vovó Isaura me deixou no dia 20 de dezembro de 2011, e eu também não chorei quando atiraram flores brancas por sobre o caixão onde seu corpo vazio dormia tranquilo. Ela estava calma, e mais gordinha, assim como costumava ser. Deus não escutou os meus pedidos, nem aos da minha mãe, nem aos de ninguém. Acho que era o melhor para ela. Minha vó não gostaria de ficar sem se mover muito bem, tão jovem, sem poder cozinhar para a família. Em um dia, depois de sair do hospital, ela se deitou e resolveu que não queria acordar; ela voltou para lá. Poucos dias depois, ela dormiu para sempre naquele lugar triste. Não houve Natal.) 

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