terça-feira, 20 de novembro de 2012

    Não, espere só mais um pouco. Eu não te vi esta semana, e queria dar uma última olhada nos seus olhos enquanto ainda estou sob o efeito dos meus sentimentos. Você está se acomodando numa gavetinha do meu coração, e eu sinto que assim você ficará melhor em mim. Você está mudando de lugar, de amor vivo, para amor adormecido, que não precisa mais acordar. E eu estou sentindo que a agonia está diminuindo, quase sumindo. Hoje eu estou sentindo só mais um último peso no peito, porque eu só queria saber me despedir direito. Como fazem em filmes, talvez. Confesso que eu não saberia agir como fazem os adultos quando estão falando sobre o que sentem. Eu teria medo, e talvez não saísse sequer um murmúrio de meus lábios. Mas eu queria ao menos ouvir alguma coisa de você. Por todo esse tempo, nunca ouvi da sua boca uma declaração. Por menor que fosse, você nem ao menos escreveu para mim uma resposta para aquela carta que lhe entreguei. Eu gostaria, mesmo, de ter algo a mais para guardar de você, além da certeza de que quando eu estiver lá com os meus 77 anos, eu ainda vou sorrir ao lembrar de você. Eu prometo não lhe escrever mais se você me pedir, eu prometo nunca mais chamar você para me ver se você não mais quiser, eu prometo até desaparecer, se isto for o que precisa. Mas por favor, diz para mim um último canto, responde aquela carta, segura a minha mão e diz que também nunca vai me esquecer. Sabemos que foi recíproco, e que nos amamos de um jeito que não vai mais dar para amar um outro alguém. Então, só quero suas palavras, para eu guardar comigo numa caixa, ou numa gaveta, que assim eu posso lembrar de você, e lembrar que você sempre terá um pedacinho de mim que eu nunca terei de volta.
    Sei que já não era mais para te escrever. Sei que já não era mais para lembrar de você. Mas minhas palavras saem mais bonitas quando são para falar desse amor. Eu não sinto mais a dor. Mas você ainda me inspira, Daniel.

    (Ana Flávia C.)

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